domingo, 16 de dezembro de 2012


O projeto Eu Vírgula Você e Eu nasceu de incômodos e desejos. Os incômodos de saber-se incomodar, e os desejos de experimentar ir ao encontro, dos incômodos  dos prazeres, do outro. Partimos inicialmente, de duas principais perspectivas: a primeira delas era investigar mais profundamente a relação entre performer e público na construção de trabalhos situados no campo das artes cênicas - pensando a performance como parte integrante desse campo quando tem o corpo como ponto de partida criação.  A segunda era pesquisar em que medida prazer, sexualidade e violência estavam embricados nas relações sociais, e de que forma essa tringulação poderia ser explorada através da experiência compartilhada. 

A performance nasceu inspirada em um trecho do livro“O Diário de um ladrão”, de Jean Genet, onde ele conta a humilhação que sofreu durante uma prisão na Espanha quando foi encontrado entre suas coisas um tubo de vaselina, objeto que denunciaria sua homossexualidade. Apesar disso, Genet se orgulha pelo alvoroço e o incômodo que a presença daquele objeto gera na delegacia, e faz uma ode ao tubo de vaselina.


"A imagem daquele tubo de vaselina nunca mais me deixou. Os policiais o havia mostrado para mim, já que com ele podiam empunhar sua vingança, seu ódio, seu desprezo. (...) No entanto eu tinha certeza que aquele pequeno objeto, tão simples, seria o suficiente para provocá-los. Apenas com sua presença ele seria capaz de alvoroçar toda a polícia do mundo, de atrair para si as raivas brancas, os ódios mudos. Um pouco malicioso, talvez, feito um herói de tragédia que se diverte por estar atiçando a ira dos deuses. Eu gostaria de encontrar as palavras mais lindas da língua francesa para canta-lo. Mas eu teria desejado também me bater por ele, organizar massacres em sua honra, e embandeirar de vermelho um campo no crepúsculo."

A ação parte do KY, lubrificante íntimo, como uma textura que serve de ferramenta para a interação entre os particpantes, para a construção de uma dança, associado à fragmentos de texto e narrativas pessoais que tratam de violências motivadas comportamentos divergentes dos modelos vigentes. A imagem do KY em cena invoca as noções dicotômicas de ativo-passivo, dominador-dominado, dar-receber, e associado à essas narrativas, questiona os papéis do masculino e do feminino em nossa sociedade.

A composição da performance se orienta  por ações autônomas, inicialmente conectadas à um dos elementos presentes no trabalho, que em diálogo com o público funcionam como estímulos, produzem desdobramentos e novas ações. Desligadas de uma noção de linearidade, elas buscam produzir atravessamentos e afecções que se manifestam livremente no espaço produzindo camadas: ações, prazeres, discursos e experiências sobrepostas; um campo de entrecruzamentos que se unifica pelo compartilhar, pela experiência coletiva.


O projeto se iniciou em 2010, em 2012 foi contemplado com o edital de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura, através da Secretaria de Incentivo e Fomento à Cultura, para o aprofundamento da pesquisa em residência na cidade de Lisboa, Portugal.

A pesquisa já foi apresentada na Semana Angel Vianna (Rio,2010), no Festival de Performance de Belo Horizonte (2011), na Galeria Boavista (Lisboa,2012) e nos pontos de cultura Circuito da Dança e Centro de Artes da Maré (Rio,2012). Além disso, a performance fez parte do projeto CoHabitar - Ciclo de Intervenções Artísticas e Improvisação, que aconteceu de março à junho de 2012, no Rio.


Criação e Performance   | Túlio Rosa

Colaboradores               | Aline Bernardi, Heder Magalhães, Isabella Duvivier, Luan Cassal,
                                     Geandra Nobre, Richard Garcia

Parceiros                      | Coletivo Qualquer, Seu Vicente Residências, c.e.m, Circuito da Dança, 
                                     Centro de Artes da Maré

Agradecimentos            | Adalgisa Amorim, Faculdade Angel Vianna, Ana Bevilaqua, Jorge Albuquerque Vieira, 
                                    Zezé Lourenço,Isabella Porto, Maíra Gabriel, Rocio Infante, Letícia Infante, Emeline Abib